Somos Caipiras!

Na minha pequena experiência como violeiro, descobri um universo fantástico que estava enterrado dentro de mim. Foi como descobrir um tesouro, uma pedra preciosa em estado bruto, uma nova cultura e uma nova vida para se viver. Junto as suas tradições descobri também que sou portador destas histórias e estão em minhas raízes.

Não nasci no campo e nem vivi a labuta do sertão. Nasci apenas no inteiror, porém vivendo a vida urbana soterrado pela modernidade. Mas foi aqui na metropóle que descobri o que eu tinha de maior valor: Raízes.

Lembro-me de minha avó, durante as noites ela ficava com seu radinho à pilha na cabeceira da cama e eu dormia ao som daquelas músicas que contava a vida do homem do campo, a natureza, o amor e a viola.

Eu não esperava um dia vir a ser violeiro. Sonhava em ser cantor, mas foi no fim da minha vida adolescente que descobri o verdadeiro sentido da palavra caipira.

Para mim, como ainda é para muitos, caipira era sinal de atraso e deboche, porém quando afastamos o preconceito e a ignorância descobrimos que caipira nada mais é do que a identidade do brasileiro. Se o índio foi o primeiro brasileiro, o caipira, sem dúvida, foi o segundo.

Os índios foram dizimados pela descoberta e pela ganância, mas ainda resistem. O mundo moderno e a tecnologia ignoram e deixam a margem nossa identidade caipira, para eles - os modernos - caipira serve apenas para abastecer as mesas com o que é produzido no campo, visto como iletrados e de pouco valor.

Porém, foi através da música e do encontro com a viola que descobri: sou Caipira. Meu coração é caipira, minhas raízes e minha alma é caipira. Sou herdeiro dessa cultura. Descobri também que na metropóle a viola corre solta pelos becos. Há uma resistência e uma expansão da música caipira em meio a selva de concreto. Até pouco tempo o conhecimento do violeiro era passado "boca a boca", não havia métodos como para outros instrumentos musicais. Hoje, existem boas escolas e bons violeiros que introduziram esse conhecimento no mercado, mas ainda faltam pessoas para multiplicar esse saber. A viola e a música caipira é divulgada, mas o conhecimento de sua cultura ainda está em expansão.

Carlos Vergalim



Apesar de ter sido criada em São Paulo, passei grande parte de minha infância no sítio de meu avô, com direito a leite direto da vaca (literalmente - minha mãe pegava o copo ia lá no curral, onde meu avô tirava o leite e pegava diretamente da vaca, em seguida eu já bebia com café, nunca tive dores de barriga e nenhum mal estar, aliás, sinto imensa saudade dessa época), sem energia elétrica e sem banheiro - tudo o que um lugar sem infraestrutura pode oferecer. Pode parecer, ouvindo assim, algo precário, uma vida precária, mas pelo contrário, era uma vida extremamente saudável.

Que delícia aquele cheiro de terra logo que descia do ônibus na pequena Iepê. Me lembro ainda hoje de como aqueles momentos eram prazerosos, em seguida a carona com o leiteiro até o sítio dos meus avós. As brincadeiras com meus primos era a melhor parte, fazendo trilhas, me arriscando em cachoeiras e percorrendo os caminhos dos rios, talvez por isso, hoje, eu me idenitifique tanto com as águas...

Além de todo esse contato físico tive grandes experiências com a música caipira, cresci ouvindo o tilintar da viola de meu pai, assim como da companhia de seus amigos sempre com uma boa moda. Os catiras também não faltavam...

Quando não era meu pai, era meu tio Alcides quem eu ouvia tocar, tio esse que era benzedor, que muitas coisas me ensinou e que me deixou de presente o amor pela Folia de Reis. Era ele quem comandava o grupo de folia de reis de meus primos e parentes e hoje é seu filho quem continua esse lindo trabalho.

Minha vida está toda entrecortada por essas experiências... Hoje, sou casada com um violeiro, que me permite continuar a divagar por esses lugares e não deixar que minha raiz se perca.

Consigo perceber, hoje, o quanto minha identidade é caipira e o quanto essas raízes são importantes para mim, seja fuliando (hoje também sou integrante do grupo de Fulia de Reis do Ribeirão Bonito), seja pesquisando ou ouvindo e multiplicando as histórias e músicas que ouço desde criança.

Adriana

Um comentário:

Carmem Toledo disse...

Olá, Carlos e Adriana!
Parabéns por este lindo blog que acaba de nascer!
Adorei ler as apresentações de vocês e colocarei um link para esta página na seção "Artes: Páginas Recomendadas", no marcador "Links" de meu blog.
Beijos!