Por Adriana Laurentino
A cultura religiosa brasileira tem base nas tradições portuguesas, indígenas e africanas. Essa mistura nos trouxe um grande conhecimento popular acerca da utilização de ervas para cura de males. Assim como nas tribos indígenas temos o pajé, na sociedade rural brasileira temos o benzedor ou benzedeira que tem o objetivo de proporcionar conforto físico e mental àqueles que o procuram.
A prática de benzimento é comum principalmente no meio rural brasileiro, praticado, normalmente por católicos das camadas populares. Herdada dos povos indígenas e propagada pelas benzedeiras e descendentes de escravos, a cura através das ervas medicinais chegou nas grandes cidades com o exôdo rural, sendo que na cidade ele se apresenta em diversos contextos religiosos – católico, evangélico e mediúnico, assim como para diferentes classes sociais.
O benzedor ou benzedeira, normalmente, realiza seus atendimentos em sua própria casa e não cobra por ele, muitas vezes àquele que recorre aos seus atendimentos leva uma oferta (um doce, um pacote de bolacha...). É alguém que tem o respeito da comunidade em que vive e adquiriu seus conhecimentos através dos mais antigos, sempre de forma oral, por isso não há registros sobre eventuais fórmulas, pois quem recebe o ensinamento mantém em segredo o que foi aprendido.
Para a prática do benzimento é necessário além de conhecimento e dos ensinamentos ter muita fé e muito amor ao que se faz, pois escolher esse caminho é abdicar de uma vida pessoal, é colocar em primeiro lugar o amor ao próximo e o desejo de fazer o bem ao outro. Admiro demais todos esses e essas que dedicam sua vida a essa prática tão antiga.
A benzeção faz parte de nossa história e identidade cultural e deve ser olhada com mais carinho e menos preconceito, deve-se vivenciá-la, conhecê-la e respeitá-la.
“É na condição de resistência que a benzeção deve ser vista. Não como um resquício de formas antiquadas de curar, algo já superado pela ciência moderna. Mas como um ato de resistência política e cultural feito como alguma coisa própria, através de uma cultura que contesta e rejeita a linguagem da opressão, da dominação e da exploração entre os homens. Deve ser vista como uma singela contribuição para um novo projeto de mundo. Contribuição vinda de um grupo de pessoas que está ao lado dos oprimidos, identificando-se com a sua luta e com os seus sofrimentos. E mais do que isso, dando a eles uma explicação e um sentido próprio. Contribuição vinda de um grupo de pessoas que ainda não passou pelo processo de desumanização que acompanha o enriquecimento de bens materiais numa sociedade hostil como é a nossa.” (Oliveira, Elda Rizzo de – O que é benzeção)
Adriana
Um comentário:
Oi, Adriana!
Adorei este texto!
Pura cultura! obrigada por compartilhar mais este conhecimento conosco!
Beijos,
Carmem.
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